244 | O Brasileiro viu a Uva

Acabo de receber um exemplar da Revista Veja de 1983, ano da fundação da Associação Brasileira de Sommeliers. São passados 33 anos desde então, uma geração inteira, portanto. Na capa a chamada “Vinhos finos nacionais: o Brasil melhora o paladar”. No interior uma reportagem com o título deste artigo.

Pelas notícias, o mundo não mudou muito: um dirigente sindical que se demite sob denúncia de fraude, o vice-presidente que se perde dizendo que “a credibilidade do governo não está sendo suficiente”, a renda do brasileiro andando para trás, a explosão de carros bombas no Kuwait…

Quanto ao vinho, não. Uma mudança radical no período.

Alguns hão de se lembrar das influências francesas e alemãs de então: os tintos nacionais mais vendidos eram Château Duvalier, Château Chandon, Forestier e Baron de Lantier de uma nobreza autoimposta. Entre os brancos Wein Zeller, Liebfraumilch, KatzWein e Johanesberg, impronunciáveis e, às vezes, ilegíveis em letras góticas, de estilo renano.

o-brasileiro-viu-a-uva-1 

castas-tintas-francesas-no-brasil-2 

castas-tintas-francesas-no-brasil-3 

O nome do vinho não era tão importante. A Vinícola Aurora engarrafava um de seus vinhos como Dijon, para uma marca de roupas cuja musa era a esplendorosa Luisa Brunet.

E as preferências individuais? Para o colunista social Zózimo Barroso do Amaral, o Viamão Gamay…Para a colunável Kiki Caravaglia, o Château Chandon…Para José Vitor Oliva, então com 30 anos, o Wein Zeller e o Forestier Cabernet. Para o economista Eugênio Gudin, aos 97, “há alguns bebíveis…entre eles o Baron de Lantier…”. Coisas do passado, apesar de tão pouco tempo transcorrido.

Nem se poderia pensar, naquele tempo, em uma indústria vinícola gigante e moderna como a que representa as gaúchas Miolo e Salton e a catarinense Villa Francioni, entre tantas.