262 – Vinhos de Altura

Temos visto aparecer referências no mundo do vinho aos chamados Vinhos de Altura e pareceu-me interessante esclarecer do que se trata. A qualidade dos vinhos é função direta da qualidade das uvas que o originam e essa, por sua vez, depende do clima e do solo da região em que são cultivadas, o que envolve a altitude da região, ou seja, a quantos metros ela se encontra acima do nível do mar (msnm).

Para ser chamado Vinho de Altura, a bebida deve provir de uvas cultivadas acima de, pelos menos, 800 msnm, podendo ir até cerca de 2.500 msnm, onde a maturação possa se dar de forma adequada.

Na Argentina, isso é obedecido por questões geográficas, pois a área de cultivo é naturalmente localizada nos terraços altos formados pela decomposição dos Andes.

A atual tendência de procura de regiões mais altas – Planalto catarinense, no Brasil, Valle de Uco, na Argentina – tem como origem as mudanças na temperatura em razão do aquecimento global, que vem roubando de locais tradicionalmente propícios à viticultura alguns de seus atributos favoráveis.

Como as alturas ajudam no objetivo de se conseguir vinhos melhores?

CLIMA – à medida que aumenta a altitude, diminui a temperatura média e o ar fica mais seco, propiciando a maturação das uvas de forma mais lenta e equilibrada. Os ventos refrescam as vinhas, evitando o acúmulo de umidade nas uvas, lhes dão uma proteção natural e os cachos gozam de boa sanidade. A radiação solar e a luminosidade desses lugares tornam a fotossíntese mais eficiente. Como os días são mais longos, as uvas coletam energía solar por mais tempo com os raios ultravioletas, induzindo a formação de níveis elevados de polifenóis.

AMPLITUDE TÉRMICA – a diferença de temperatura entre o dia e a noite é notável nas proximidades da Cordilheira dos Andes. Estressadas por essas diferenças, as uvas desenvolvem substâncias que proporcionam mais aroma e sabor.

SOLO – ricos em pedras e minerais e pobres em material orgánico, os solos das alturas exigem que as raízes penetrem fundo para encontrar água. No seu camino, elas absorvem minerais que adicionam gosto e complexidade ao vinho.

CONSEQUÊNCIAS NAS UVAS E NOS VINHOS – nessas condições extremas as uvas não crescem muito, são pequenas, com ótima relação entre casca e polpa e equilibrio perfeitamente adequado entre taninos, açúcar e acidez. Concentra-se mais cor na casca, a maturação é lenta e saudável. Com essa concentração de taninos e acidez, os tintos são particularmente aptos ao amadurecimento em barricas. Os tintos de altura desenvolvem cores violeta ou rubi intensas e profundas. Seu nariz é fino e frutado, lembrando frutas vermelhas e ervas aromáticas, em geral mais suave e menos adstringente podendo ser bebido ainda na juventude. A mineralidade confere aos vinhos de altura uma afinidade natural com a comida que eles completam e enriquecem. Finalmente, a formação de polifenóis acima citada aporta aos vinhos de altura uma grande riqueza de substâncias favoráveis ao funcionamento do sistema cardiovascular.