Informação Técnica

PRODUÇÃO MUNDIAL DE VINHOS CAI PARA NÍVEIS DA DÉCADA 1960
SAFRA DE 2017 EM NÚMEROS

por Marcos Arouche

A Organisation Internationale de La Vigne et du Vin (OIV), em conferência de imprensa ocorrida em abril deste ano, apresentou o relatório anual sobre o estado da vitivinicultura mundial referente à safra de 2017. Algumas previsões pessimistas, como uma acentuada redução no volume de vinho produzido, foram confirmadas.

A produção global de vinho em 2017 alcançou 250 milhões de hectolitros (mhl), equivalente a uma queda de quase 9% em relação à safra anterior, retrocedendo aos níveis estabelecidos ainda no início da década de 1960, quando em 1961 totalizou pouco mais de 251 mhl. O retrospecto da produção de vinhos nos últimos dezoito anos, não só torna a safra de 2017 como a de menor rendimento, como também fortalece uma nítida e preocupante tendência histórica de queda observada no século XXI.

Este resultado foi fortemente influenciado pelas adversas condições climáticas observadas nos principais países produtores de vinho da Europa Ocidental, em particular na França, como já havia sido publicado na seção Opinião do boletim ABS Notícias, de julho de 2017, mas também na Itália, Espanha e Alemanha.

 

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UNIÃO EUROPEIA

Os três maiores produtores mundiais de vinho, Itália, confirmando sua liderança, França e Espanha, mantiveram suas posições no ranking em 2017, aliás, como já o fazem há décadas, entretanto, apresentaram uma quebra significativa de suas safras em relação a 2016 de 17%, 19% e 20% respectivamente. Este comportamento também foi registrado na Alemanha, o quarto maior produtor da União Europeia, com uma perda de 15%. A diminuição acumulada em 2017 somente por estes quatro países, atingiu 26,3 mhl, representando mais de 10,5% da produção mundial. Portugal, mantendo-se na quinta posição entre os maiores produtores europeus, reverteu esta sequência de queda de seus concorrentes, com um importante aumento de 10%.

Mesmo com este cenário negativo, os países da União Europeia, considerando apenas aqueles com rendimento superior a 1,0 mhl, foram responsáveis por aproximadamente 56% de toda a produção mundial de vinho, atingindo um volume de quase 140 mhl, todavia, comparado com os números de 2016, demonstraram um declínio de 24 mhl. Em termos práticos, somente esta retração na produção europeia de 24 mhl na safra de 2017, equivale a impressionantes 3,2 bilhões de garrafas que deixarão de ser colocadas no mercado internacional.

 

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ESTADOS UNIDOS

Os Estados Unidos, o quarto maior produtor global de vinho, mantiveram, em 2017, níveis elevados da ordem de 23,3 mhl, projetando uma pequena diminuição de 1% em relação a 2016, mantendo-se, entretanto, muito próximo da média de suas últimas cinco safras. Todavia, estes números poderão sofrer alguns ajustes, uma vez que os dados fornecidos pelo Departamento de Agricultura (USDA) foram baseados em previsões do volume de uvas ainda a ser colhido durante o mês de agosto de 2017, antes, portanto, do ponto adequado de colheita. Da mesma forma, ainda não havia sido levado em consideração, os potenciais danos causados aos vinhedos, quando dos incêndios florestais ocorridos em outubro de 2017 na Califórnia, região responsável por 88% da produção americana, segundo média computada nos últimos vinte anos.

 

AMÉRICA DO SUL

Segunda maior região produtora de vinho, ficando atrás somente da União Europeia e responsável por quase 10% da produção mundial, a América do Sul apresentou um resultado positivo em relação à safra de 2016 da ordem de 19%, recuperando-se dos efeitos prejudiciais causados pelo fenômeno climático El Niño.

Revertendo o desastroso resultado da safra de 2016, que foi implacavelmente comprometida pelas adversas condições climáticas que atingiram principalmente o Rio Grande do Sul, o Brasil, em 2017, com um volume de 3,4 mhl, apresentou um aumento significativo de 169% em sua produção vinícola em relação à safra anterior, tendo superado, inclusive, sua média histórica das últimas duas décadas em mais de 15%.

A Argentina, o sexto maior produtor mundial de vinho e o maior da América do Sul, também sinalizou positivamente em 2017, quando produziu 11,8 mhl, representando um ganho de quase 26% sobre a safra anterior. Ao contrário do Brasil e da Argentina, que em 2017 apresentaram ganhos sobre a safra de 2016, o Chile manteve uma sequência de queda na produção pelo segundo ano consecutivo, com uma perda de 6%.

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OCEANIA

A Austrália, terceiro maior produtor mundial de vinho fora da União Europeia, se destaca como o protagonista nesta região com 13,7 mhl produzidos em 2017, mantendo uma discreta evolução de crescimento desde 2010. Apesar de em 2017 ter acusado uma queda em sua produção da ordem de 6%, a Nova Zelândia vem mantendo um comportamento coerente de crescimento ao longo desta última década.

 

CHINA

A impressionante e vigorosa performance da indústria vitivinícola chinesa, que entre os anos de 2000 e 2012 apresentou um acelerado e sustentado crescimento da ordem de 30%, tornou-a em 2012, a quinta maior produtora mundial de vinho. Este período coincidiu com o estabelecimento de sistemas normativos e de gestão sobre todos os processos do cultivo da vinha e da vinificação, que, juntamente com o aquecimento da economia global e com o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), abriram definitivamente a atividade vinícola chinesa para o mercado internacional.

Entretanto, entre 2013 e 2015, as autoridades chinesas iniciaram um processo de regulamentação e adequação do financiamento governamental à vitivinicultura, com o objetivo de estimular ainda mais a melhoria do seu produto e, consequentemente, fortalecer a competitividade da China no cenário internacional. Até então, a inobservância de padrões produtivos aceitáveis, a falta de homogeneidade da produção e o alto rendimento dos vinhedos, sempre foram os principais fatores impeditivos para a inserção do vinho chinês num mercado cada vez mais globalizado. Todas essas ações de ajustamento implicaram uma imediata, forte e consistente reversão da tendência de alta produção em proveito da qualidade, já identificada a parir da safra de 2013.

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ÁFRICA DO SUL 

Em sentido oposto ao da China, a África do Sul mostra uma gradual evolução em sua produção, desde os anos 2000, chegando em 2017 com um ganho da ordem de 3% sobre a de 2016, garantindo a oitava posição entre os maiores produtores mundiais de vinho.

De certa forma, esta tendência de crescimento foi muito bem recebida, uma vez que sua maior região produtora, Western Cape, vem sendo atingida por um período de severa seca e que, de acordo com o relatório preliminar de abril de 2018, publicado pela OIV, e pelos primeiros dados obtidos pela Wines of South Africa, preveem sérias dificuldades para a safra de 2018.