Estilos de vinho: velho mundo versus novo mundo

Palestra proferida pelo professor Euclides Penedo Borges, da ABS Rio, na sede da Metropolis Wine Merchants, em New York, sob os auspícios da Brazilian American Chamber of Commerce, em 18/2/2015.

Se você é apreciador de vinhos de diversas origens e de várias variedades de uvas, pode ter a oportunidade de comparar um Pinot Noir do Oregon com outro da Borgonha; ou um Malbec francês de Cahors com um Argentino, de Mendoza; ou um Riesling do Mosel, Alemanha, com outro do Clare Valley na Austrália e assim por diante.

Esses são exemplos da instigante comparação entre o Velho e o Novo Mundo do Vinho e suas diferenças em estilo. Quais as causas de tais diferenças? Quais as características de cada um deles? Para responder devemos considerar não somente aspectos gerais do tema mas também questões específicas relativas aos vinhedos e à vinificação.

GENERALIDADES

As influências básicas sobre a elaboração dos vinhos europeus são a Tradição e o Terroir. A primeira refere-se a uma longa história na qual muitas gerações definiram, para cada lugar, as variedades de uva a cultivar, os métodos de poda, rendimentos, recipientes, técnicas… reunidos como guias normativas de cada uma das “denominações de origem” tais como “Appelation d’Origine Controlée” na França ou “Denominazione di Origine Controllata” na Itália, regulando a viticultura e a elaboração de vinhos no Velho Mundo.

Já “Terroir” diz respeito à ideia da bebida refletir as características da área onde as uvas são cultivadas – solo, terreno, clima – fazendo por exemplo com que um Tempranillo de Ribera del Duero, Espanha, seja diferente daqueles do Douro e do Alentejo, em Portugal. Esse sentido de “terroir” induz o produtor a evitar técnicas como irrigação ou leveduras selecionadas para atingir vinhos que “expressam o terroir”.

No Novo Mundo o objetivo é chegar a vinhos que “expressem a fruta” e as influências básicas são a Inovação e a Variedade de Uva. Há um sentimento de liberdade já que, sem “regulamentos” os enólogos estão abertos para avanços tecnológicos como o uso de Osmose Reversa ou a eventual correção do mosto dentro dos limites do protocolo operacional.

Como conseqüencia, um Pinot Noir do Oregon é um Pinot Noir enquanto que um Pinot Noir da Borgonha é um Borgonha; um Merlot chileno é um Merlot enquanto que um Merlot de Bordeaux é um Bordeaux.

VITICULTURA

O tamanho dos vinhedos na Europa é relativamente pequeno em geral. O lendário Romanée Conti cobre não mais do que a
area de um campo de futebol e muitos dos vinhedos portugueses e italianos são ainda menores.

Significa que os cachos de um lado são iguais aos do outro e em qualquer parte do terreno. Com tal homogeneidade o produtor pode dedicar seu talento a sofisticação e longevidade.

Os enormes vinhedos encontráveis em certas partes do Novo Mundo podem levar a diferenças entre as uvas ao longo do terreno e o enólogo vai trabalhar com uma qualidade média. Seus esforços desviam-se para ousadia e saborosidade.

Outras diferenças podemos encontrar na densidade da vinha e nas distãncias entre plantas e entre fileiras. Na Europa o espaço entre as videiras e entre as fileiras são o apenas necessário para que um indivíduo execute manualmente os serviços de poda e de colheita. Já o espaçamento entre fileiras no Novo Mundo permite em muitos casos a passagem de tratores ou de máquinas colheitadeiras o que leva a diferenças na cor dos vinhos, mais profunda e intensa em geral no Novo Mundo.

Finalmente, mas sem esgotar o tema, uma videira e seus frutos são o resultado de Terra e Sol. Ambos são igualmente importantes mas no Velho Mundo a primeira condição para a escolha de um local para um vinhedo foi o terreno, a Terra. Os tintos europeus tendem a ser terrosos, com acidez marcante, tânicos e necessitam de tempo para se mostrar em boas condições; podemos associá-los ao terreno, à Terra enquanto que associamos vinhos do Novo Mundo ao Sol, ao clima. Vinhos do Novo Mundo têm em muitos casos teor mais alto de álcool, não são tão ácidos e apresentam-se em condições de se beber ainda jovens. Barolos ou Brunellos com seis anos são provavelmente ainda muito jovens enquanto que um Malbec de Mendoza ou um Carmenère de Colchagua estão prontos com três ou quatro anos mesmo que possam melhorar ainda mais daí para frente.

VINIFICAÇÃO

Não se envolver demasiado com o vinho e deixá-lo expressar o terroir naquele ano é o comportamento usual de um enólogo
europeu. Ele adere às diretrizes de sua “denominação de origem” e para assimilar mais components das cascs das uvas ele prolonga a maceração elaborando tintos complexos, ácidos, tânicos e longevos.

Já os enólogos do Novo Mundo,, sem tradições ou regulamentos a obedecer, têm a liberdade de experimentar coisas novas, de usar arecorrer à tecnologia dentro de certos limites, usar leveduras selecionadas, fermentar em barricas ou induzir a fermentação malolática, atentando para o caráter frutado sob o princípio de que a tecnologia pode contornar eventuais imperfeições do terroir. Dessa forma, o ano da colheita ou safra escrita no rótulo, tão importante em Bordeaux, Champagne ou no Porto, não tem tamanha importância em Mendoza, Barossa ou Napa Valley.

ESTILOS, CONCLUSÕES

Até aproximadamente a década de 1980 a diferença entre vinhos do Velho e do Novo Mundo tinha caráter geográfico preciso. Atualmente a linha divisória já não é tão nítida na medida em que alguns produtores do Novo Mundo, alguns empregando enólogos franceses,italianos… estão à procura do terroir enquanto que produtores europeus descobrem o frutado, levados pelas tendências do mercado e influenciados pelas avaliações de especialista, instituições e revistas especializadas.

Tendo em vista tudo isso, o estilo de Vinho do Velho Mundo tende a ser macio e seco, mais complex e algo delicado, expressando evidentemente o terroir. Tem em geral menos corpo, exibindo aromas de ervas, terrosos e minerais. Nos brancos, a mineralidade é usualmente mais nítida.

Vinhos do Novo Mundo tendem a ser suculentos e deliciosos, expresando evidentemente seu frutado. Os climas são em geral mais quentes resultando em uvas mais maduras e vinhos mais alcoólicos e encorpados, centrados na fruta, algo adocicados e abaunilhados, influenciados pelo carvalho.

Quando se trata de vinhos hoje falamos mais adequadamente em estilo Velho Mundo e estilo Novo Mundo, ambos apresentando ótimos productos, ambos nos dando exclentes opotunidades de usufruir.