O que aconteceria hoje, no panorama mundial dos vinhos, se a tecnologia moderna não tivesse sido adotada nas regiões vitivinícolas na década de 1950?

Elizabeth Ferreira Cascão
Monitora de Grupos de Degustação e professora do Curso Profissionais Ciclo II

Será que os vinhos tradicionais ainda prevaleceriam no mercado mundial como os melhores do mundo ou outras tendências estariam em voga?

Os reais benefícios da adoção das tecnologias modernas para o mercado de vinhos, no nosso entendimento, ficam evidentes quando acompanhamos a própria evolução do mercado, principalmente após a década de 1950, com a melhoria na qualidade dos vinhos, tornando o mercado mais competitivo e com melhores preços, o desenvolvimento de novas regiões vitivinícolas e o consequente aumento do consumo, devido à maior oferta no mercado.

Destacamos, portanto o papel determinante do desenvolvimento tecnológico, sem o qual provavelmente os vinhos, principalmente os do Novo Mundo, não teriam alcançado este alto grau de qualidade que os caracteriza hoje, e nem estariam competindo em igualdade de condições com os vinhos do mercado europeu.

Um importante indicativo desta mudança no mercado dos vinhos europeus foi o Julgamento de Paris, em 1976, que consistiu em uma prova de degustação, às cegas, de vinhos franceses e californianos. O evento mudou completamente a história da bebida, mostrando que produtores do Novo Mundo poderiam competir igualmente com as tradicionais vinícolas europeias, posto que os vinhos da Califórnia foram os grandes vencedores. “A prova de Paris destruiu o mito da supremacia francesa e marcou a democratização do mundo do vinho”, afirma o crítico americano Robert Parker, um dos mais respeitados críticos do mercado internacional. Nessa prova, os jurados ficaram confusos, pois não conseguiram perceber a diferença entre os vinhos franceses e os californianos. Considerando que, até então, os americanos eram conhecidos apenas por fabricar bebida barata de garrafões, é possível imaginar o espanto de todos com o resultado da degustação.

A Prova de Paris derrubou mitos do mundo dos vinhos. Mostrou que um vinho extraordinário pode ser produzido em muitos lugares, além do exaltado terroir francês. Se os solos do vale do Napa produziram vinhos superiores aos melhores Borgonhas ou Bordeaux, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul, os Estados Unidos, Chile e a Argentina também constituem campos vastos e ilimitados de experiências e produção de vinhos inusitados e de alta qualidade.

A globalização do mercado do vinho se expressa pelo surgimento de grandes vinícolas mundiais e, consequentemente, de vinhos excepcionais. Além disso, possibilita parcerias entre vinícolas do Velho Mundo e Novo Mundo, como a das vinícolas Concha Y Toro com Mouton de Rothschild, que juntas produziram o esplêndido Alma Viva. Da Robert Mondavi e Mouton de Rothschild resultou o vinho Opus One. Teve bons resultados também a parceria da Catena Zapata com a Mouton. Fusões, a exemplo da Allied Domecq da Inglaterra e Montana da Nova Zelândia, também contribuíram para a expansão dos horizontes da indústria vinícola.

O intercâmbio internacional de conhecimentos foi outro fator determinante para que os produtores de todo o mundo passassem a ter acesso aos resultados de pesquisas importantes, tais como a de varietais que melhor se adaptam aos diversos e diferentes locais, contribuindo assim para o maior êxito da aplicação de tecnologia.

Felizmente, parece que uma maior aproximação entre os dois mundos está em constante andamento, o que é e será sempre extremamente benéfico para os amantes do vinho, sem que isso torne necessário o abandono das individualidades e especificidades regionais e territoriais, que se constituem no aspecto mais emocionante desta bebida.